Alameda Yaya, 836, SLJ - Jd. Aida, Guarulhos/SP
Bancos nacionais devem se tornar líderes em emissões
As companhias brasileiras que estão decidindo dar andamento às operações de emissões primárias e secundárias de ações podem trazer bons frutos para os bancos e para as instituições financeiras brasileiras
As companhias brasileiras que estão decidindo dar andamento às operações de emissões primárias e secundárias de ações podem trazer bons frutos para os bancos e para as instituições financeiras brasileiras.
"Com a crise financeira global, muitos bancos estrangeiros podem perder espaço na liderança das operações. Se algo der errado, é muito mais fácil um banco estrangeiro deixar o País, abandonando a operação, do que uma instituição brasileira fazê-lo, por isso, acredito que estes bancos devem tomar a liderança nas emissões", acredita Roberto Gonzalez, professor de Governança Corporativa da Trevisan Escola de Negócios. A operação da Visanet será conduzida pelo Banco Bradesco de Investimentos (BBI).
Até então os líderes nas operações sempre foram estrangeiros, com predominância do Credit Suisse e do UBS, que se transformou no BTG Pactual. Estes bancos, porém, podem ser os principais responsáveis por atrair os investidores estrangeiros ao Brasil. Nas operações de ofertas de ações de dezembro de 2007 a julho de 2008, o volume de emissões foi de R$ 41 bilhões, sendo que o montante dos estrangeiros nos processos foi de R$ 19,7 bilhões, quase a metade realizada.
Depois de a Visanet retomar seu processo de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), foi a vez de Natura e MRV Engenharia darem andamento ao processo de emissão primária e secundária de ações. Para especialistas, há espaço para novas captações.
"As companhias estão aproveitando uma lacuna da volta dos investidores estrangeiros. Neste momento acredito que há demanda por emissões de ações", afirma José Góes, economista da WinTrade, home broker da Alpes Corretora.
A incorporadora imobiliária MRV Engenharia anunciou que seu conselho de administração aprovou a realização de uma oferta pública primária e secundária de ações no valor de R$ 420 milhões a R$ 550 milhões. A companhia revelou que o preço da ação a ser vendido dependerá da cotação dos papéis na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e também do processo de coleta de intenção de investimento. Os coordenadores da oferta serão UBS Pactual e Credit Suisse.
"As empresas precisam tomar cuidado porque os investidores estão mais seletivos para uma compra em oferta de ações", explica o economista, que acrescenta que "ainda não é possível avaliar o tamanho das operações, que vai depender de quanto a companhia precisa captar e de qual é o tamanho da empresa", acredita Góes.
No caso da Natura, a operação seria de emissão secundária de ações, ou seja, não haveria a emissão de novos papéis, com oferta de ações que estão em poder dos acionistas controladores.
"A Natura deu uma prova interessante com um desempenho não muito bom em 2007, mas mostrou recuperação em 2008, com uma estratégia de mercado muito boa. Com isso, a companhia conseguiu uma valorização do preço das ações. Esta operação pode ser uma boa oportunidade para a volta do investidor estrangeiro", explica Gonzalez.
O professor explica ainda que a onda de empresas sem preparo na Bolsa prejudicou as novas emissões. "Tivemos muitas empresas que decidiram abrir o capital sem estrutura. Algumas levaram apenas três meses para preparar a companhia e mesmo assim vieram para o mercado. O investidor está de olho nestas empresas, caso venha alguma para o mercado de ações", diz Gonzalez.
O mercado espera com ansiedade a operação de IPO da Visanet, mas Gonzalez é contra a emissão. "No lugar deles [Visanet] eu não faria o IPO neste momento. Mas, se for bom, deveremos ter uma onda de ofertas no restante do ano. Acredito que devem acelerar-se os processos das demais empresas, mas não será como foi no passado", diz ele.
O controle da companhia, cuja maior rival, Redecard, já é listada na Bovespa, é dividido entre Bradesco (com 39% das ações), Banco do Brasil (31%), Santander (14%) e Visa International (10%). Se levada a cabo, a operação pode resultar na primeira estreia na Bovespa desde junho de 2008, mês da chegada da OGX ao mercado. Desde então, a única oferta realizada foi a venda secundária, em março, de ações da própria Redecard que pertenciam ao banco americano Citigroup.