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Mercado profissional vive momento restrito
Estudo realizado pela Produtive, empresa especializada na gestão de carreira e conexões entre os profissionais e as vagas disponíveis, indicou elevação no tempo médio de recolocação no mercado de trabalho para seis meses em 2014
Estudo realizado pela Produtive, empresa especializada na gestão de carreira e conexões entre os profissionais e as vagas disponíveis, indicou elevação no tempo médio de recolocação no mercado de trabalho para seis meses em 2014. Até o ano passado, profissionais em busca de um novo emprego demoravam em torno de quatro meses para atingir o objetivo. Os números são reforçados pela redução, anunciada na semana passada, pelo Ministério do Trabalho, da previsão da geração de vagas formais – diferença entre contratações e demissões -, neste ano, de 1,4 milhão para 1 milhão de postos.
Para o CEO da Produtive, Rafael Souto, a desaceleração da economia brasileira resultou em menos vagas abertas e decisões de contratação mais lentas. As áreas mais afetadas, segundo Souto, são as ligadas à produção, como as engenharias. Por outro lado, os setores de recursos humanos e finanças seguem aquecidos mesmo com a crise.
Jornal do Comércio - Qual a avaliação dos resultados do estudo?
Rafael Souto - A análise, levando em conta todos os setores e carreiras, mostrou que o tempo médio, que vinha, no auge do aquecimento econômico, na faixa de quatro ou, no máximo, cinco meses, se elevou e já bateu em seis meses. Essa média vem aumentando desde 2013, e o cenário não tende a melhorar em curto prazo. Apontamos a desaceleração da economia como principal fator responsável pelo resultado.
JC - O que leva à conclusão de que a desaceleração da economia é o fator responsável pelo aumento da média?
Souto - A desaceleração econômica afeta diretamente o nível de emprego. Devido à instabilidade atual, o número de posições acaba sendo reduzido, e algumas empresas demoram a tomar uma decisão, pois estão mais inseguras com o rumo do País. Consequentemente, esse processo impacta no tempo de recolocação. Embora não tenhamos percebido um aumento significativo no desemprego, o tempo de maturação de uma vaga já está maior. Ou seja, as companhias estão mais lentas na hora de contratar.
JC – O calendário do segundo semestre, com eleições, terá impacto nesse cenário?
Souto - Impacta muito nas empresas que se relacionam diretamente com o setor público. Por exemplo, aquelas que trabalham com licitações ou têm negócios relacionados aos governos federais e estaduais. E, no geral, o quadro político em mudança deixa todas as empresas mais cautelosas. Mas o ano todo foi atípico por causa do calendário. Tivemos Carnaval em março, Copa do Mundo e, agora, eleições. Embora a economia seja o fator primordial, essas questões são complementares e fazem com que tenhamos um período de bastante cautela na questão do emprego.
JC – Algumas áreas sofrem mais do que outras com essas dificuldades?
Souto - Projetamos um segundo semestre e um ano de 2015 mais complicados em áreas ligadas à produção e gestão industrial, além de posições ligadas ao comércio exterior, que estão bastante paradas. As carreiras ligadas à engenharia, que vinham muito bem nos últimos anos, por exemplo, devem sofrer ainda mais. As áreas de recursos humanos e finanças, por outro lado, mesmo na crise, mantêm um bom volume de posições tanto na indústria como em serviços. Afinal, quando o mercado está em dificuldades, as empresas buscam profissionais de finanças para reorganizar o setor e enfrentar os desafios. No setor de recursos humanos, por sua vez, o aumento no volume de vagas de executivos é um fenômenos observado há, pelos menos, três anos, pois se percebeu que a área estava muito descuidada.
JC – Como o profissional pode se adaptar ao mercado nessas condições?
Souto – Os profissionais com melhor recolocação são aqueles que trabalham melhor o seu currículo e o desenvolvimento da carreira. Normalmente, eles têm formação acadêmica mais robusta e estão nessas áreas mais aquecidas, como recursos humanos e finanças. Um mercado mais restrito, por outro lado, exige cuidados. E vivemos tempos difíceis na gestão de carreira. Recomendamos, então, que se faça um estudo do cenário da sua área e investimentos em qualificação. A disposição para se mudar para outras cidades também impacta diretamente no tempo de recolocação. Quanto mais mobilidade, melhor.
Áreas de RH e finanças seguem aquecidas
Na contramão da tendência de mercados profissionais mais restritos, as áreas de recursos humanos e finanças seguem aquecidas. Com isso, o tempo de recolocação desses trabalhadores não acompanha os seis meses da média geral. Bruno Aguiar dos Santos levou pouco mais de um mês na transição entre o último emprego e o atual. Formado em Ciências Aeronáuticas, pela Pucrs, realizou pós-graduação em finanças em São Paulo, setor em que sempre atuou. Saiu da Crédito Real em abril e hoje é coordenador de cobrança no Grupo Isdra.
“Foi um processo tranquilo. Junto a uma consultoria, realizei um levantamento do meu perfil profissional, tendo em vista o que procurava no mercado de trabalho. Dessa forma, fui apresentado às vagas de maneira mais assertiva, o que fez com que meu perfil casasse muito rapidamente com o da nova empresa”, explica. Santos acredita que o currículo sólido o ajudou: “Minha formação foi feita em uma instituição de muito renome no setor. Além disso, tinha a experiência de trabalhar em um centro muito atrativo, em São Paulo, o que gera apelo no currículo”.
Santos acredita na influência do calendário nas contratações. “Antes da Copa, estava bem aquecido, com muitas vagas. Houve uma pausa durante o evento e, agora, há certa recuperação. Para o final do ano e início de 2015, talvez o mercado fique estagnado devido às incertezas políticas causadas pelo cenário eleitoral.”
Para Diego Mariano, atuante em recursos humanos, a recolocação foi um pouco mais longa, mas ainda abaixo da média de quatro meses, observada até o final de 2013. Ele buscou apoio de uma consultoria de gestão de carreira. “Às vezes, esquecemos como nos apresentar, melhorar currículo, competências e networking. Nesse sentido, o apoio da consultoria foi decisivo para o sucesso da minha transição entre empresas”, conta. Mariano considera que poderia ter ingressado em outras vagas antes, mas foi bastante criterioso na escolha, uma vez que havia diversas oportunidades. “Notei um mercado aquecido, pois as empresas estão percebendo a importância estratégica da área de recursos humanos. A data da minha saída, no final do ano, também colaborou para isso, porque é uma época em que sobram vagas e faltam profissionais”, destaca.