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Mercado nacional desafia pequenas auditorias
É cada vez mais comum que não só as empresas de capital aberto, obrigadas por lei a contratar um profissional para analisar os relatórios financeiros, contem com o serviço de auditoria independente
As pequenas e médias firmas de auditoria ainda são maioria no Brasil, chegando a aproximadamente 360 empresas ao todo. No entanto, elas respondem por apenas 11% do total de auditorias realizadas no País. Competindo basicamente com quatro grandes organizações (Deloitte, Ernst & Young, KPMG e PricewaterhouseCoopers, conhecidas como Big Four), donas de 72% do mercado nacional, as Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Porte (Fapmp) encaram uma verdadeira luta de Davi contra Golias.
Com 36 anos de experiência em auditoria independente, todos eles dedicados a empresas pequenas, Paulo Peppe conseguiu se destacar em um mercado altamente competitivo. Ele conta que apesar de ainda enfrentar diversas dificuldades, ter uma empresa de auditoria independente no Brasil está mais fácil do que quando fundou a sua Peppe Associados, nos anos 1990. “Quando eu comecei a investir nessa carreira não tínhamos nem literatura disponível no País. O material em português era basicamente o produzido pelo Conselho Federal de Contabilidade. Só 14 páginas sobre o assunto”, lembra Peppe.
Além das evoluções na variedade e qualidade da bibliografia sobre o tema, a dificuldade em contratar e manter profissionais qualificados aumentou desde meados da década de 1960, quando profissionais de contabilidade encararam o desafio de iniciar no País um trabalho comum no exterior. Enquanto antigamente as pessoas saiam das grandes empresas e iam para as pequenas, hoje os jovens não hesitam em trocar o cargo em uma Fapmp pela vaga em uma Big Four.
Normalmente o fator levado em conta para a decisão não é o salário, bastante semelhante entre as firmas independente do tamanho, mas a possibilidade de evolução dentro da empresa. “Já preparei funcionário desde o início da faculdade que ao receber proposta de uma grande empresa, mesmo com menor salário, aceitou devido a possibilidade de crescimento interno”, lamenta o auditor.
A grande maioria dos jovens profissionais reproduz um sentimento do mercado de que a auditoria realizada por umas das quatro grandes entidades especializadas no mundo, com filiais no Brasil, é mais confiável. Membro do Comitê de Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Porte da Federação Internacional dos Contadores (Ifac) e do Grupo de Trabalho de Fapmp do Ibracon, Monica Foerster afirma que essa crença do mercado e da opinião pública é falha.
“As firmas de pequeno e médio porte têm excelente qualidade na prestação de serviços, investimento em equipes com profissionais experientes e atendimento personalizado por um preço ainda menor do que o dos demais.”
Avanço das PMEs abre mais espaço para os profissionais especializados
É cada vez mais comum que não só as empresas de capital aberto, obrigadas por lei a contratar um profissional para analisar os relatórios financeiros, contem com o serviço de auditoria independente. Mesmo empresas menores buscam conquistar a confiança dos investidores e concedentes de crédito. E a asseguração vem sendo usada como importante aliada.
Carro-chefe da geração de empregos no Brasil, o enorme contingente de pequenas e médias empresas (PMEs) se tornou essencial para o crescimento econômico brasileiro. O segmento representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e, em 2013, teve receita total mais de R$ 560 bilhões.
Com tamanha expansão e um potencial claro de crescimento, as PMEs não perdem o interesse em consolidar-se e, é claro, figurar entre as grandes. Para isso, elas vêm investindo, antes mesmo de se tornar obrigatório, em transparência.
Pesquisa realizada pela Federação Internacional dos Contadores (Ifac) sobre o papel das Fapmp ao oferecer suporte às PMEs mostra que estas companhias buscam mais do que auditoria. “Existe uma grande demanda das pequenas e médias por consultoria de negócios”, informa o presidente do Comitê de Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Porte (Smpc, na sigla em inglês) da Federação Internacional dos Contadores (Ifac), Giancarlo Attolini.
Com uma estrutura enxuta, essas organizações encaram os contadores como “seus conselheiros de confiança”. Attolini alerta também que grande parte dos estudos apontam que os contadores são a primeira e principal fonte de orientações das PMEs. O novo espaço vem sendo explorado pelos profissionais estrangeiros e representa mais oportunidade de negócios aos auditores brasileiros.
Especialistas defendem que as Normas Internacionais de Auditoria (International Standards on Auditing - ISA) sejam aplicadas de maneira proporcional ao tamanho e à complexidade da entidade. Em um mercado extremamente competitivo, algumas vezes até desleal, e com poucas empresas de capital aberto, a saída para as pequenas e médias auditorias independentes pode ser expandir as responsabilidades dos profissionais, indicam os especialistas.
O misto de consultor tributário, empresarial e auditor pode assustar, mas essa é a tendência apontada pelo mercado. A competição entre grandes e pequenos tampouco é de hoje. A história bíblica de Davi e Golias exemplifica esse embate, em que a força de vontade do primeiro ultrapassa o tamanho do segundo.
Atendimento personalizado é arma para enfrentar a concorrência
As Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Porte (Fapmp) têm de competir corpo a corpo com as grandes firmas e apostam no tripé formado por preço atraente, atendimento personalizado e qualidade de serviços prestados para se sobressair. Por outro lado, as firmas de auditoria de grande porte contam com um dos valores mais reconhecidos pelo mercado: credibilidade.
Monica Foerster, membro do Grupo de Trabalho de Fapmp do Ibracon, indica que os profissionais brasileiros passem a driblar a concorrência desigual investindo maciçamente na prestação de serviços não só de auditoria, ou seja, não só de asseguração. “A atuação em outros direcionamentos de trabalho irá permitir uma asseguração limitada. Esse trabalho requer menor carga horária de trabalho e, consequentemente, um honorário que tenha condições de ser aceito por um cliente menor”, aponta.
Algumas empresas já realizam esse tipo de trabalho. Contudo, a adequação técnica de acordo com as normas específicas ainda não deslancharam. Por isso, no âmbito do Ifac, o que está se buscando é começar a desenvolver também ferramentas e orientações para dar à empresa de auditoria de pequeno e médio porte condições de ir além da asseguração.
Com a visão de uma Big Four, o diretor de desenvolvimento profissional do Ibracon, Carlos Sousa, garante que a crescente pressão regulatória é igual para as grandes, médias e pequenas. Segundo o auditor, em um mercado competitivo como o que vivemos todos são concorrentes, inclusive as Fapmp entre si. Nos últimos anos, inúmeros casos de big auditorias, normalmente multinacionais, que compraram firmas menores se alastraram por todo País. Elas adquirem as organizações locais muitas vezes com propostas economicamente irrecusáveis.
A percepção do mercado é que elas adquirem uma Fapmp para alcançar os clientes de menor porte e já ter equipe preparada para atuar junto a eles, comenta Monica. “Se é uma tendência não sei, mas existe uma grande probabilidade de que aconteça ainda mais”, admite a especialista.
A concorrência se tornou ainda mais difícil quando a compatibilidade entre o tamanho da empresa e a firma de auditoria contratada desapareceu. Nos últimos anos, as empresas de auditoria de maior porte notaram o potencial das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) brasileiras e estão desenvolvendo setores ou equipes específicas para reforçar a busca por esse mercado.